A segunda etapa do Circuito Mundial de Bodyboard começa nesta terça-feira em The Box, Margaret River, Austrália. A prova oferece US$35 mil em premiação, além dos 2.000 pontos na corrida pelo título mundial.

Neste evento, a IBA – International Bodyboarding Association – inaugura o novo formato de disputas do Circuito Mundial, denominado Showdown. Na primeira fase, os atletas caem na água em disputas com quatro homens na bateria, mas sem eliminação. O primeiro e segundo colocados avançam direto para a fase três, enquanto os dois últimos vão para a repescagem na segunda fase.

Cabeça de chave número 1 do evento, o havaiano Jeff Hubbard surge como grande favorito, afinal ele é o líder do ranking depois da majestosa vitória na etapa de Pipeline, que inaugurou o Circuito Mundial 2012. Além dele, Ryan Hardy, campeão em The Box na temporada passada, também está cotado entre os atletas que brigarão pelo título.

Melhor brasileiro na etapa do ano passado em The Box, Magno Oliveira – vice-campeão do evento em 2011 – será o único representante do Brasil neste ano na Austrália.

The Box 2011:

O novo formato do evento promete ser um diferencial e trazer muitas emoções para o Circuito 2012. Antes do início da etapa, o head judge do Circuito Mundial Francisco Garritano concedeu uma entrevista e fala sobre os novos rumos do esporte. Confira abaixo.

Chico, o bodyboard chegou em um nível antes impensável. Como você vê o crescimento da modalidade pelo mundo?

Realmente nos últimos 5 anos em termos de estrutura, planejamento e visibilidade, este esporte deu um salto muito grande. O bodyboard vive um grande momento mundial e nacional, e por que não dizer, regional.

Mesmo com as crises na Europa, há uma sobrevivência no mercado da crise e onde o esporte conseguiu explodir está girando. Regiões como Chile, Caribe, Nova Zelândia estão em um bom momento.

E é lógico a Austrália e os EUA, que deram um salto operacional muito grande, fazendo junto ao Brasil um eixo muito forte de eventos e circuitos nacionais e referências. Sabemos que é momentâneo na Europa as regiões de referência como Portugal, Espanha e França formam o bloco que completam as 4 forças regionais. Não é por acaso que a França tem os dois últimos campeões mundiais.

Mas nada disso seria mesmo possível sem uma união verdadeira de talentos e geração de capital e investimentos, junto com uma equipe técnica que está colocando o bodyboard em outro plano.

Em termos de estrutura, o que é preciso para a realização de um grande evento hoje? Quais são as principais preocupações da IBA?

Há perspectiva de uma excelência de produto, que envolve os atletas, mídia, imagem e ondas. Não há mais espaço para amadorismo na produção e venda do produto. Mas o processo de transição foi bem feito e creio que todos estão vendo os resultados.

Lógico que estamos sujeitos às vontades da natureza e de Deus, mas a generosidade em ondas espetaculares e eventos antológicos estão realmente marcando a real necessidade e nível profissional que a IBA está atingindo e exigndo. Sem amadorismo, tanto da parte dos atletas, IBA associação e investimentos. Mais ou menos o que os países de referência estão exigindo nos nacionais. É uma escala de cima para baixo, necessariamente.

Com a chegada do grande nível ao esporte, a parte técnica também se fortalece. Como é comandar um quadro técnico em competições deste nível?

O nível técnico de uma comissão e dos atletas é realmente proporcional ao desenvolvimento de ambos, e no atual estágio que o Bodyboard se encontra no mundo, não se pode correr riscos. Se a excelência está dentro d´água e nas imagens, fora da água também tem que estar. Não só a parte de julgamento, mas todo staff e estrutura têm que dar as condições para que os melhores do mundo se apresentem com propriedade.

Os atletas estão em um nível muito alto como nunca visto no esporte. Tanto de estrutura física, mental e de proposta de evolução no esporte. Por isso, dentro das possibilidades, há a necessidade de se utilizar os melhores, mais atuais, mais experientes e que realmente tenham dentro do compromisso o que é ser um membro de um evento e não ter resquícios de amadorismo ou falta de atualizações.

A IBA tem me dado toda estrutura para que eu possa fazer o meu trabalho da melhor maneira possível, tanto na escolha dos árbitros internacionais como na parte estrutural. A imagem do juiz atual tem que ser a imagem do atleta atual. Tenho nomes que são lendas no esporte e continuam vivendo a parte estrutural, como Pat Caldwell, Simon Thornton, Dudu Pedra, e verdadeiros profissionais que representam a história e experiencia extremamente necessárias em muitos momentos de vários eventos. Como Craig Hadden, Diogo Marques, Kevin McKalister, Rogério Bezerra, Toni Obenza e Marc Rossow, além de outros que contribuem para que a máquina gire sem perder a qualidade.

Além das inovações na parte técnica que estão extremamente fortes, como as prioridades e o novo formato para esse ano.
Tudo dentro de um ideal de excelência e busca de melhoria para o atleta e o esporte de maneira geral.

Creio que não se possa correr riscos e temos que utilizar o melhor e nos últimos anos, tenho conseguido, com o apoio da IBA, dos competidores e organizadores. 

O que um head judge espera de um atleta dentro d´água?

Essa pergunta poderia ser feita também ao contrário. O que os atletas esperam dos juízes. Basicamente nos esportes de apresentação e em particular o nosso, é aquele fator do conjunto de critérios, e as condições do mar, lógico.

Nos últimos anos, dentro da mecânica dos campeonatos, que às vezes é muito automática naquelas palavras “velocidade e pressão na parte crítica da onda” com qualidade, mas é super importante e temos feito bastante isso, definir o critério até mesmo no dia do evento, pois as condições podem variar, tanto nos beach breaks como nos point breaks e uma reunião, bem rápida com os competidores, antes de definir o critério, sempre faz bem. Principalmente em eventos que o risco e a proposta é muito grande, e os detalhes no mais alto nível são mais definitivos.

Quais são os novos critérios de avaliação do sistema de julgamento?

Creio que basicamente no Circuito Mundial, e nos principais circuitos do mundo, como no Brasil, a mudança de nível e busca de uma melhor apresentação e espetáculo de qualidade, mesmo nas ondas pequenas, tem que ser notório.

Não se pode mais permitir enganações e apelações de manobras ou situações que são embaraçosas para o esporte e isso está bem claro dentro da IBA. Os atletas concordam com isso e é assim que tem que ser, e realmente dar ao esporte o nível de execelência que ele merece e os atletas merecem.

O Brasil está vivendo um bom momento com uma geração muito forte e uma outra por vir muito determinada no que é ser profissional de verdade, com uma boa imagem, boa postura, um surf realmente bombástico que enaltece os que lá estão representando o Brasil em alto escalão e em nível de surf a ser comparado.

Lógico que os outros atletas que compõem o esporte tem que se adaptar e buscar o que dá certo e visão realmente de trabalho capaz.
É o que o surf vem fazendo, o que o atletismo sempre fez, e que o Bodyboard vem fazendo, não se permitindo, pela própria postura dos que compõem os atletas, criarem se sempre novos Mikes, novos GT, novos Jeffs, Ben Players, Hardys, Marks , Magnos, Uris, Rawllins, Neymaras, Karlinhas e Eunates, etc. Que são cavalheiros, damas, profissionais, educados e realmente capazes no que fazem.

E é o que se nota quando das reuniões, das reclamações ou insatisfações. Educação e profissionalismo de verdade. Não vemos os bons e campeões de verdade falarem asneiras e insatisfações na internet, sendo irônicos ou mal educados. Mas aí é outro nível de educação e discernimento da realidade. Com esses profissionais que se criam as referências e se pode falar de capacidade.

Não há mais espaço dentro da atual gestão do esporte para quem não ajuda e não tem capacidade de manter o nível, ou que de alguma forma atrapalhou o processo, tanto dentro como fora da água.

Até onde você acha que os atletas de bodyboard podem chegar? E o esporte, até que ponto pode evoluir mais?

Os atletas estão em um nível extremamente alto, em qualquer região ou país, mas os que compõem a elite realmente estão em um nível mortal e assustador, que às vezes até algumas pessoas mais experientes se assombram em alguns eventos.

O nível de estrutura física, mental e técnica está no seu melhor e eles têm que ser recompensados com um trabalho sério da direção para que possam seguir com qualidade e tranquilidade, mostrando uma parte do esporte, que é o topo, a ser atingida por quem vem das divisões de base.

O trabalho de base é extremamente importante das entidades e mostrar ao atleta o que é realmente certo e errado, mostrar as boas referências que compõem o esporte é necessário, com uma postura realmente profissional em relação ao que se almeja. Dentro dos principais centros, como Brasil, Austrália, EUA e Europa, é obrigatória essa orientação.

No Brasil e Austrália temos grandes lideranças que estão permitindo uma renovação dentro das categorias de base e eventos de alto nível, além de criar bons profissionais que buscarão as referências, porque a entidade exige.

O trabalho feito pelo Terry e o Craig na Austrália e o Flávio Brito no Brasil, que são de tirar o chapéu, são as referências a serem seguidas. Creio que os conscientes podem ver o que se passa. Se continuarmos assim, creio que vamos atingir pontos cada vez mais altos, e o resultado e o retrospecto estão aí.

É um orgulho fazer parte fundamental dessa nova era depois de tantos esforços, e ter a certeza de que estamos no caminho certo.
Vamos seguir trabalhando, pois tenho muito orgulho de ser Bodyboarder.

Um grande abraço a todos e boas ondas!