O paulista Adriano de Souza, 24 anos, conseguiu mais uma vitória fantástica no ASP World Tour, desta vez contra o dez vezes campeão mundial Kelly Slater, 39, na final do Rip Curl Pro em Portugal. A etapa, apontada como a que teve as melhores ondas da temporada, foi realizada em três dias de muitos tubos em Peniche.
A praia de Supertubos ficou lotada durante toda a competição e vibrou com a segunda vitória brasileira consecutiva no ASP World Title Race 2011. Gabriel Medina já tinha vencido a da França. Só deu Brasil na perna européia!
“Estou muito feliz. Foi um campeonato fantástico, com ondas fantásticas, acredito que as melhores deste ano no ASP Tour. O público foi incrível lotando a praia todos os dias e posso dizer que o meu coração agora é 45% Portugal e 55% Brasil. Também quero agradecer a este cara (Slater) que já é onze vezes campeão mundial, que eu respeito muito e certamente é quem me faz chegar até aqui no pódio”, falou Adriano de Souza, no alto do pódio, ao lado de Kelly Slater.

Adriano de Souza prova ao mundo que domina a arte de andar por dentro dos tubos de peso. Foto: © ASP / Kirstin.
Depois dessas palavras, Mineirinho se ajoelhou em reverência ao melhor surfista de todos os tempos, com Slater abraçando-o para acabar com qualquer animosidade entre eles, principalmente depois das discussões durante a etapa de Trestles, nos Estados Unidos. Esta foi a segunda vez que eles decidiram o título em etapas do ASP Tour. Kelly venceu a do Brasil dois anos atrás em Imbituba (SC) e agora Adriano de Souza conseguiu dar o troco nas ótimas condições de Supertubos.
A primeira onda boa do brasileiro na final já foi um tubão profundo numa direita da série. Quando ele saiu, já espalmou as duas mãos pedindo nota 10, mas os juízes deram 9 para ele e a praia vaiou, mostrando para quem a multidão estava torcendo. Os dois já tinham recebido uma nota máxima nos tubos de Supertubos na terça-feira. Mineirinho na quarta de final emocionante contra o taitiano Michel Bourez e Slater contra Taj Burrow na primeira semifinal, depois de ter deixado o cearense Heitor Alves em quinto lugar na fase anterior.
Kelly tentou dar o troco numa esquerda menor, veio encaixado de grab-rail, saiu, buscou outro tubo na mesma onda, mas ela fechou e a nota não chegou a cinco pontos. Logo ele acha uma direita boa, some no tubo e na saída manda um floater despencando com segurança do alto da onda. A nota 6.83 recebida valeu a liderança para Slater, mas foi por pouco tempo.
Mineirinho recuperou a ponta com um tubo rápido de frontside numa direita que valeu nota 6.67 para abrir 8.85 pontos de vantagem. Não era muita coisa para o número 1 do mundo em um lugar como Supertubos. Quando faltavam 7 minutos para o término, Slater surfa um tubo mais longo nas esquerdas e recebe nota 7.90, diminuindo a diferença para 7.78 pontos.
A prioridade de escolha da próxima onda ficou para o brasileiro nos cinco minutos finais. Restando dois minutos, Slater rema numa onda forçando Adriano a entrar para ganhar a prioridade. Porém, depois só entrou uma esquerda fraca e a vitória do Brasil em Portugal foi confirmada para Adriano de Souza, por 15.67 a 14.73, no belo cenário do pôr do sol formando um trilho dourado no mar em Peniche, bem em direção ao campeonato em Supertubos.

Kelly Slater tem ótima campanha durante todo evento, mas cai diante do brasileiro na final. Foto: © ASP / Kirstin.
Mineirinho ao Vivo – Logo depois do pódio, Mineirinho passou pela cabine da transmissão ao vivo do Rip Curl Pro em português e falou mais sobre outra vitória inesquecível para a sua carreira, contra o maior ídolo do esporte em uma etapa com ondas excelentes. Esta foi a terceira derrota de Slater para brasileiros em finais. A primeira foi no início da sua carreira, para o catarinense Teco Padaratz na França e a outra foi no ano passado, para o potiguar Jadson André no Billabong Santa Catarina Pro em Imbituba (SC).
“Agradeço muito a Deus por este momento tão especial na minha vida. Uma noite antes, eu sonhei com este troféu, só que estava muito distante, então guardei isso dentro de mim e fui avançando aos poucos, ganhando ritmo, ganhando confiança e Deus foi provando pra mim que eu poderia ser campeão deste evento”, contou Adriano de Souza.
“Quando tirei aquela nota 9 no início da final, eu sabia que a bateria não tinha acabado ainda, faltavam 25 minutos, mas comecei a rezar bastante pra que não viesse onda pro Slater, porque ele é incrível, pode tirar nota em qualquer condição de onda e é o cara a ser batido no circuito. Eu devo muito a ele por estar levantando este troféu aqui, porque ele é o único cara no World Tour que me puxa os limites de uma forma que nem eu consigo entender”, falou Mineirinho.
“Foi uma semana incrível e agradeço todo o suporte dos brasileiros pela internet, dos portugueses aqui na praia e este troféu vai ficar guardado em casa junto com o que eu ganhei no Brasil (Billabong Rio Pro em maio na Barra da Tijuca), que foi muito especial pra mim também. Eu venci dois eventos que me senti em casa, as duas etapas onde se fala a língua portuguesa, então estou muito feliz pela vitória aqui com este público maravilhoso”.
Mineirinho ainda revelou que chegou em Peniche uma semana antes de todos os atletas do ASP World Tour para treinar em Supertubos, com sua dedicação sendo recompensada pela vitória na terça-feira. Foi o terceiro dia seguido de tubos sensacionais que protagonizaram grandes momentos durante todo o dia em Portugal. O campeão foi o único que competiu quatro vezes no último dia.
Supertubos nota 10 – Ele abriu a terça-feira derrotando o sul-africano Travis Logie ainda pela terceira fase. Depois ganhou de Fredrick Patacchia e do nota 10 da segunda-feira, Bede Durbidge, na rodada que valia classificação direta para as quartas de final. Aí veio a vitória mais fantástica de Mineirinho, também com um tubaço nota 10 para derrotar o taitiano Michel Bourez por 7 centésimos de vantagem. Depois de um troca-troca de liderança adrenalizante nos minutos finais, o resultado ficou em 17.60 a 17.53 pontos.

Autor de uma bela nota 10, Bede Durbidge é mais uma vítima de Mineiro no campeonato. Foto: © ASP / Kirstin.
O australiano Julian Wilson já havia recebido uma nota máxima na fase anterior, mas perdido para Taj Burrow também por uma pequena diferença – 17.94 a 17.50 – na abertura das quartas de final. E quase que o fato se repete nesta bateria do Mineirinho com Michel Bourez. Na semifinal, foi a vez de Slater arrancar um 10 unânime dos cinco juízes para despachar Taj Burrow com 19.50 pontos de 20 possíveis, maior placar do último dia. Este tubo foi premiado com US$ 10 mil como o melhor do Rip Curl Pro Portugal 2011.
O cearense Heitor Alves enfrentou o número 1 do mundo duas vezes na terça-feira. A primeira foi na fase classificatória para as quartas de final, quando Slater também surfou tubos incríveis para já registrar impressionantes 19.30 pontos nas duas notas computadas. Depois Heitor passou por Damien Hobgood na repescagem, mas não achou ondas na quarta de final contra Slater, que ganhou fácil por 18.70 a 7.67 pontos.
Corrida do título – Com o resultado do Rip Curl Pro Portugal em Peniche, apenas quatro surfistas têm remotas chances matemáticas de impedir o 11º título mundial de Kelly Slater no ASP World Tour 2011. Todos praticamente precisam vencer as duas últimas etapas da temporada e Slater não pode somar mais do que 1.750 pontos em nenhuma delas.
Ou seja, além da necessidade das duas vitórias, será preciso acontecer algo mais improvável ainda, que Kelly não ganhe duas baterias, ou passe da terceira fase no Rip Curl Pro Search em San Francisco, Estados Unidos, nem no Billabong Pipeline Masters no Hawaii. Resumidamente, estas são as possibilidades de título mundial para o brasileiro Adriano de Souza e para os australianos Owen Wright, Taj Burrow e Joel Parkinson.
Apenas em uma etapa deste ano ele não conseguiu vencer duas baterias nas fases iniciais. Foi no Billabong Rio Pro, que terminou com vitória de Adriano de Souza na Barra da Tijuca, em maio no Rio de Janeiro.

Tubos e mais tubos. Este foi o cenário dos sonhos durante três dias em Portugal. Foto: © ASP / Kirstin.
Rip Curl Pro Portugal 2011
Resultado
1 Adriano de Souza (Bra)
2 Kelly Slater (EUA)
3 Bede Durbidge (Aus)
3 Taj Burrow (Aus)
5 Heitor Alves (Bra)
5 Joel Parkinson (Aus)
5 Michel Bourez (Tah)
5 Julian Wilson (Aus)
9 Chris Davidson (Aus)
9 Damien Hobgood (EUA)
9 Fredrick Patacchia (Haw)
9 John John Florence (Haw)
13 Gabriel Medina (Bra)
25 Jadson André (Bra)
25 Miguel Pupo (Bra)
25 Raoni Monteiro (Bra)
25 Alejo Muniz (Bra)
25 Bruno Santos (Bra)
Ranking do ASP World Tour 2011 depois de nove etapas
1 Kelly Slater (EUA) – 58.150 pontos
2 Owen Wright (Aus) – 45.650
3 Adriano de Souza (Bra) – 42.450
4 Joel Parkinson (Aus) – 41.100
5 Taj Burrow (Aus) – 40.950
6 Jordy Smith (Afr) – 35.750
7 Julian Wilson (Aus) – 34.600
8 Josh Kerr (Aus) – 33.050
9 Michel Bourez (Tah) – 32.650
10 Mick Fanning (Aus) – 31.700
11 Jeremy Flores (Fra) – 27.700
12 Damien Hobgood (EUA) – 26.950
13 Alejo Muniz (Bra) – 25.850
14 Bede Durbidge (Aus) – 24.750
14 Adrian Buchan (Aus) – 24.750
16 Jadson André (Bra) – 21.400
17 Heitor Alves (Bra) – 19.200
18 Tiago Pires (Por) – 19.000
19 Matt Wilkinson (Aus) – 18.900
19 Brett Simpson (EUA) – 18.900
21 Fred Patacchia (Haw) – 17.500
22 Chris Davidson (Aus) – 17.450
23 Kai Otton (Aus) – 15.500
23 Taylor Knox (EUA) – 15.500
25 Daniel Ross (Aus) – 14.000
26 Raoni Monteiro (Bra) – 13.950
27 Gabriel Medina (Bra) – 13.500
28 Adam Melling (Aus) – 13.000
29 Dusty Payne (Haw) – 12.950
30 Travis Logie (Afr) – 12.750
31 Kieren Perrow (Aus) – 12.000
32 CJ Hobgood (EUA) – 10.250
33 Patrick Gudauskas (EUA) – 9.500
34 Bobby Martinez (EUA) – 7.450
35 Cory Lopez (EUA) – 6.750
36 John John Florence (Haw) – 6.250
37 Dane Reynolds (EUA) – 4.750
38 Gabe Kling (EUA) – 4.250
39 Miguel Pupo (Bra) – 2.750
40 Tom Whitaker (Aus) – 1.750